Bem - vindos queridos mequetrefes!!!


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

...Versos Soltos...

" Eu sou cria do mundo e o mundo assim me quis...no sufoco do asfalto...na bebida dos suores...nas crises existências...basta-me o pão seco."

Silmara Silva

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Entre Agulhas

O café da manhã desceu rasgando meu amor
Que triste decepção estampou na toalha da mesa
Ficaram apenas os farelos de pães doces
Soltos por entre o vapor da água quente no fogão

O meu amor largou a casa pela manhã
Nem suas roupas vermelhas lavei
Nem seu sorriso contemplei ao acordar
Foi tudo tão mágico que logo desabei

Por outros tantos retalhos me deixou
Não pude costurar o tecido passado
E agora a linha do presente me costura
Os botões negros da nossa mentira

As estampas daquela manhã meu amor
Estão entre as agulhas em meu peito ardendo
Não quero que voltes sorrindo ao colorido
Quero distante de mim para me ver sorrindo.

Silmara Silva

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Carta aos Demônios

Recebi uma carta intitulada “Carta aos Demônios”, era meu aniversário, que irônico meu aniversário. Soava em meus ouvidos a amarga dureza das palavras projetadas como conforto para minha tão desprezível alma. Eu vi que eu sou a criação mais imperfeita da minha pessoa. O podre é que tenho o dom do buraco da lama, do chão cuspido, da boca imunda, da bebida falsa, da esmola mal dada. Olhei fixamente para as paredes do quarto e elas não me responderam. Assumem-se ignorantes dentro da mais ordinária razão. Foi então que a porta fria e o silêncio dos poetas anunciaram que os meus demônios estão querendo a liberdade de mim... Derramo até as últimas doses de lágrimas que posso para implorar que eles não façam isso. Se quiseres eu rasgo todas as palavras escritas até hoje, se quiseres eu adoto a insanidade e não lhe abandonarei nunca mais, se quiseres beberei todo o absinto proibido, mas não se libertem assim, de mim, por mim, em mim, por fim... Amanhã será sexta-feira dia da colheita das dores, prometo que colherei todas as dores de pessoas felizes, e todas de agora em diante farão parte do meu intimo,só eu terei o direito de sentir dor pelo resto do mundo. Falas comigo?Não se preocupe pode rir, eu fico aqui quieta, asmática, com uma série de formigamentos pelo corpo, mas eu fico aqui quieta [...]. Não queres que eu abra a boca para lhe confortar com intocáveis escritos?Então falarei para os mortos que estão mais vivos do que vossa senhoria. Tenho dito, ou melhor, tenho cuspido: “Eu estou viva mesmo não acreditando, e viverei mais do que eu mesma imagino e muito mais do que eu possa pensar e muito mais ainda do que eu possa prevê. Sou e estou viva no que está morto, dentro de mim e que por mim fala. Não acredito mais no que dizem meus demônios, e se eu acreditar morrerei na data prevista por eles, que moram no infinito da minha escuridão perdidos em meus desvarios. Hoje é dia de choro, não porque morri, mais porque descobri que permanecerei viva nas linhas que tracei e nas palavras que nelas escrevi. Ficarei lúcida na mente dos que se atreveram a me lê e não mais me esqueceram”. Não mais celebrarei a morte, não mais me prenderei a nada, nem aos vultos e nem aos ocultos... exaltarei a vida porque nos últimos anos matei a morte em mim.
                                                                                                                       Silmara Silva