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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Infância

Cai o pingo d’ agua na ponta da chuva
Corro a ladeira e vejo o morrinho de barro
Olha lá mamãe sorrindo ela pula cai de chinelo
Lá vai minha infância subindo de pé descalço

E meu bucho vai cheio de feijão colorido
Oh!Que minha vida era boa de jogar peteca
A meninada toda me chamava de tardizinha
Só tomava banho depois de uma boa sova

A rua era minha escola num era gente não
Matei gato na lata de leite da bomba que fiz
Era tudo ingenuidade dessa menina feliz
Lambuzei-me de lama da sarjeta que desci

Lá vai minha infância chorando de bucho cheio
Cheio das frieiras que meu pé quase caiu
Cheio dos meus risos e de minhas danações
Cheio de cabeças das bonecas que cortei

Pulei corda foi pra chegar logo na vida
As curubas em mim arderam e doeu viu
Fui criança estranha de criação rígida vovô
Porém atrás do rumo cresci menina moça

Só aos dezoitos anos conheci alguns lábios
Que quase morri, num gostei da babação
O menino fugiu, bicho do mato disse que sou!
Espantei e até hoje espanto, os moços de perto de mim

Mas eu fiz cores na infância, eu me fiz e me criei de boa
Moleca de beira de rua que do queima brinquei
Salvei vidas, salvei latinhas, salvei pega-pega, salve-me!
Gritou à vizinha: é uma peste segura esse diabo dentro de casa

Fiz sopa com as lombrigas no fundo do quintal
Doente sempre fui e não dava brecha pra febre
Era bombons misturados com comprimidos chupei
Ler foi o que fiz meu prato de todo dia comia

E quando sangrou chorei, mamãe me cortei
Era chuva debaixo de minhas pernas...
Era eu nascendo como mulher pra vida Receber
Você já pode gerar uma vida, disse minha mãe chorando

Aos olhos de quem me ver muitas histórias contei
Não sentirei mais os mesmos cheiros e gostos da infância
Não jogarei a peteca que me marcou de surra as costas
Não viverei a infância que me roubaram do doce amargo de ser criança.

Silmara Silva


6 comentários:

Anônimo disse...

...uma bela descrição de uma etapa tão delicada da vida,a angustia e a inocência juntas numa mágica atração.Quão serene és a infância!

Anônimo disse...

!!

Cantin/ Iolanda Gomes disse...

Só podia ser mesmo você pra descrever-lembrando desta forma poetica a infância vivida.
Maravilhoso!
É um prazer te ler!
:*
Iolanda

Sandra Farias disse...

Estou te lendo. Retornarei sempre. Tuas palavras tocam-me e eu gosto.

Joelson Oliveira disse...

Realmente sua poesia tem uma prosódia fantástica... parabéns! bjos

avelar disse...

MARAVILHOSO! Suas palavra me encantam, me emocionam, tem muita bleza. Es muito talentosa minha amiga. PARABÉNS!